quarta-feira, 2 de setembro de 2015

2 anos

Nos últimos meses tenho pensado que o difícil não é ter filhos, mas aceitar que agora temos filhos.
Hoje Alice faz 2 anos e relendo seus primeiros dias e meses de vida, vi o quanto tudo muda e muda pra melhor. Muda por quê? Acho que muda pra melhor porque a gente começa a aceitar e a lidar melhor com nossa nova condição na vida: cuidar de alguém.

Relembrando minha vida nesses últimos 2 anos (2 anos, 39 semanas e 1 dia, considerando o tempo de gravidez da Alice), vi que, por nunca ter engravidado na vida, eu achava que nunca mais teria um estômago tranquilo, depois que nunca mais dormiria de barriga para baixo e depois que nunca mais iria andar sem sentir dor e quase fazer xixi na roupa.

Nos primeiros 17 dias de nascida da Alice, eu reclamava de não conseguir comer, tomar banho, sair de casa, fazer algo para mim. Com apenas 1 mês de recém-mãe, eu pensava que não existia vida além de amamentação e choros pelos cantos da casa.

Afinal, por que sofrer tanto por antecedência? Por que achar que tudo é tão complicado? Qual a dificuldade mesmo? A dificuldade era em aceitar a minha nova condição sem ficar relembrando da vida sem um bebê. Poxa, eu tinha passado 26 anos tomando conta de mim da maneira que eu desejava, qual o problema em mudar minha rotina em prol de outro ser por um tempo bem menor que 26 anos? Então fui aceitando e me entregando. Passou 1 ano e eu já tinha mais confiança em mim mesma, passaram 1 ano e 2 meses, Alice começou a andar e eu vi que ela poderia ser independente de mim. Quando percebi, realmente passou rápido, muito rápido. Sabe por quê? Porque tudo que é bom, voa!

Para cada fase, um desafio. Há quem diga que só vai piorando, mas para mim, que tenho me entregado cada vez mais, está só melhorando. Alice é ótima, é criança, não é estátua. Fala alto, corre, cai, adoece, grita. Canta, dança. Come, cospe. Dorme, acorda, bebe água e dorme novamente. Fica calada, fica concentrada, pula para chamar a atenção.

Toda vez que minha energia vai se esgotando junto com a paciência eu me lembro do dia em que eu estava na porta de casa com Alice - na época com uns 5 meses, tentando distraí-la com os carros da rua, já que ela só chorava dentro de casa - e passou uma senhora por mim que perguntou se era a primeira filha, o nome, idade, essas coisas. Eu sem paciência para dar estas respostas, respondi um forçado "sim, filho é ótimo" quando ela comentou que ter filhos era a melhor coisa da vida.

Ela comentou, eu forcei uma falsa felicidade e ela ficou parada olhando Alice babando e sorrindo pra ela. Ela me olhou nos olhos, com os olhos cheios d'água, olhar firme, sorriso nos lábios e me disse:

- Aproveite. Filhos são as melhores coisas que podemos ter. Aproveite mesmo. Aproveite que passa rápido. Hoje os meus estão grandes e parece que foi ontem.

Baixou a cabeça e desceu a rua. Nunca antes ninguém tinha me olhado emocionada para dizer que filhos são a melhor coisa da vida. Até hoje não me esqueço.

Hoje eu aproveito, aproveito mesmo. Sem esperar nada em troca. E ainda assim, há uma troca.
Alice faz 2 anos e o aprendizado que tive com ela nesse tempo é muito maior do que qualquer coisa que eu tenho feito e farei por ela.



quinta-feira, 11 de junho de 2015

Encarar ou não uma segunda gravidez?


Eu já tô na metade da segunda gravidez, então essa pergunta não vale pra mim hahaha. Mas vale pra quem tem peguntando o que eu estou achando de estar grávida novamente e pra quem tá em dúvida se engravida ou não mais uma vez.

Então resolvi fazer dois tópicos sobre o assunto. Lembrando que eu estou falando APENAS da gravidez, pois como não tem bebê nascido, ainda não sei nada sobre ter mais de um filho.

1- Por que NÃO engravidar novamente?
Uai, porque mesmo quando dizem que uma gravidez é diferente da outra, ela pode ser como a outra, ou seja, você terá que encarar toooodo aquele mal estar novamente e dessa vez, com um filho pendurando em você. E se você não passou mal da primeira, vai que passa da segunda. Sem falar no sono. Antes, você podia chegar do trabalho e dormir direto até o outro dia, agora não. Agora tem um filho pendurado em você. Antes você podia dar caminhadinhas pra aliviar os gases, agora é mais difícil, porque tem todas as obrigações de um filho nascido pendurado em você. Antes você tinha menos dores na coluna, agora não, agora tem um filho pendurado em você. Deu pra entender que a vida não gira em torno da gravidez, como na primeira vez, né? Tudo continua em torno do filho pendurado em você e você geralmente só vai se lembrar que está grávida quando alguém comentar da sua barriga. Do contrário, grande parte do dia será sem regalias de grávida. Por isso, minha amiga, pense bem meeeesmoooo se você quer engravidar novamente, principalmente se você ainda amamenta, pois pode parecer lindo amamentar grávida, mas quando você começa a sentir na pele as dificuldades de ver seu leite diminuindo e um desmame não planejado aparecendo, muitas lágrimas irão rolar. E considere também a idade do filho pendurado em você. Aqui a diferença será de mais ou menos 2 anos e 1 mês, ou seja, minha mais velha pendurada ainda estará muito pendurada e então há mais lágrimas para rolar no puerpério do que o normal. Se você não estiver disposta a encarar dificuldades, então não engravide.

Credo... Nem mais um irmãozinho?


2- Por que engravidar novamente SIM?
Bom, porque dificuldades existem em qualquer fase da vida, até na vida de mulheres que não querem engravidar. Então se o desejo brotou, se tem crescido aquela vontade, não vejo motivos para ficar evitando excessivamente uma gravidez.
Vale a pena engravidar pela segunda vez porque estamos mais maduras, mais seguras. Por exemplo, como a Alice ainda é pequena (mas não tão bebezinha dependente), eu vivo uma gravidez mais natural, pois não tem aquele foco o dia inteiro na gravidez, já que o foco é mais na Alice e suas necessidades diárias. Então quando vejo, o dia passou, a noite chegou e deu tudo certo, tá tudo bem com o neném da barriga, que mexe e remexe quando me deito.
Vale a pena engravidar pela segunda vez porque é muito legal ver que vai ter mais bebê em casa! Que a Alice vai ter uma companhia. Irmãos são interessantes. Há quem diga que com a diferença de idade não tão grande, as coisas serão mais fáceis. Até acredito. É melhor aproveitar que tô no embalo, então quando passar, vai ter passado tudo. Ciúmes irão existir em qualquer fase. Colos não serão perdidos, serão divididos e não há nada mais bonito na vida do que aprender a dividir. Alice e seu (sua) irmão (ã) irão aprender desde muito cedo o que é compartilhar tudo dentro de casa. Nós, os pais, teremos mais uma grande lição na vida e mais coragem para enfrentar os problemas, porque se tem uma coisa que um filho ensina é enfrentar problema. Imagina dois filhos.
Muitas pessoas vão nos chamar de doidas, corajosas. E muitas pessoas vão nos olhar com os olhos cheios de água e dizer que somos abençoados por gerar mais um. Prefiro ficar com essas pessoas quem enchem os olhos de água. Não somos doidas nem corajosas. Somos pessoas que fazem escolhas e encaram as responsabilidades dessas escolhas com muito amor. Por isso os olhos enchem de água.
Já conhecemos um pouco das dificuldades e estamos aqui para encará-las de novo, simplesmente pelo motivo de que amamos isso. Amamos filhos pendurados na gente! Não estamos perdendo nossas vidas, estamos recomeçando. Uma gravidez é sempre um recomeço.
Tá, talvez somos doidas e corajosas. Quando me lembro dos primeiros meses da Alice, me sinto um pouco doida de ter escolhido passar por tudo aquilo de novo. Ai ai ai, que que eu fui arrumar???
Mas a coragem e o prazer da maternidade passam por cima de tudo, não sei explicar. Dá até vontade de engravidar pela terceira vez. Essa tal da barriga de grávida é um trem viciante.
Sobre engravidar amamentando, falei bem o que aconteceu comigo (veja textos anteriores) e o que parecia um terror, na verdade foi um passo a mais no meu amadurecimento com Alice e não houve sofrimento como parecia haver. Tudo passa, gente. E o que aconteceu comigo pode não acontecer com você.
Ah, dá pra descansar sim. Eu sempre deito num colchão ou sofá com Alice após o almoço e ficamos lendo historinhas ou vendo alguns vídeos (nos vídeos eu cochilo e ela vê sozinha hahaha). A gente vai se adaptando, é muito interessante.
A vontade está surgindo? Quer engravidar novamente? Ouça seu coração, sua alma, escute o que você tem a dizer e então aproveite.

Tudo passa, não é? Só não deixe o tempo passar tanto.

A rotina se refaz, como em tudo na vida.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Pertubação na Amamentação O DESFECHO

Depois do meu relato da Pertubação na Amamentação, várias mães em grupos que participo, por mensagem no Facebook, pessoalmente e aqui nos comentários me disseram ter passado por isso. Incrível como falamos pouco, seja por vergonha ou medo dos julgamentos, sobre a parte ruim das coisas lindas da maternidade. 

Vemos mais depoimentos de sucesso do que de "fracasso". Mas quando alguém resolve falar, a mais ativista índia que defende a amamentação até 10 anos aparece dizendo que também não conseguiu.

Eu achei MUUIITO bom ler tudo que me escreveram. Nossa, não me senti mais um monstro, me senti normal. E me ajudou também a ter calma e pensar "vai passar".

E passou.

Passou muito rápido. Poucos dias depois da postagem do texto, passou. 

Com os depoimentos das mães que superaram, eu me espelhei e deixei ainda Alice vir mamar. Mas eu falava: vai ser bem rapidinho, viu? Quando o ódio vinha surgindo eu fechava os olhos, ou olhava bem pra ela e pensava que logo não iria sentir aquilo. E logo ela largava o peito e ia correr ou fazer outra coisa. E assim foi indo, até que ela mesma pegava o peito, achava estranho e largava rapidamente. E então ela não pediu mais. Me vê sem blusa, sem sutiã, deita perto dos seios e nada de querer mamar, de sentir tentação, de regredir, nada disso. Se aconchega e fim. 

Parecia que não ia ter fim meu sofrimento, mas não é que teve?

Obrigada a todas vocês!!! Depois de conflitos que eu não conhecia, vivenciei um desmame mais calmo e tranquilo

Obrigada mesmo!

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Pertubação na Amamentação: relato

Postagem grande e sem fotos, porque tem sido difícil:

Eu tinha na cabeça uma postagem bem legal sobre o andamento da gravidez e a amamentação da Alice.  Mas, como dizem, a vida é uma caixinha de surpresas e de repente a parte legal se foi.

Assim que descobri que estava grávida novamente, foi aquela mesma emoção. A gente já estava com o desejo aparecendo e logo apareceu a gravidez. No geral, todos ficaram bem felizes e como previsto, a dúvida dos outros em relação à amamentação surgiu e eu passei uns 30 dias DIRETO falando que estava tudo bem e que não tinha problema. Sucesso. Segui me preparando para amamentar toda a gravidez e amamentar dois após o nascimento do neném.

Gravidez indo e percebo uma mudança na produção do leite: começou a diminuir. Logo corri em busca de relatos e vi que algumas mães paravam de amamentar por causa da sensibilidade dos mamilos, o que causa muita dor, ou porque os bebês mais velhos simplesmente enjoavam do leite. Resolvi conversar com uma mãe por mensagem e ela me disse que o leite secou praticamente de um dia para o outro, então ela e a filha sofreram muito com a mudança brusca.

Como meu leite estava diminuindo aos poucos, depois de ficar desesperada e analisando se eu já dava outro leite em mamadeira, se eu dava chupeta (olha eu delirando com chupeta de novo), vi que nada disso era necessário e resolvi prevenir ficando durante uns 3 meses oferecendo água para Alice antes do peito, tanto de dia, quanto de madrugada.

Até que Alice foi largando o peito sozinha, por conta própria. Chegava de madrugada, dava goles de água, mamava um pouquinho e voltava a dormir. Passou a acordar umas 2 vezes no máximo e de repente só um toque com um balanço de leve nas costas a fazia dormir. E ela parou de mamar de madrugada. Durante o dia, só pedia o mamá antes do cochilo. E depois antes de dormir de noite. Raramente tinha umas sugadas no fim da tarde. E ela foi parando de mamar naturalmente.

Eu fiquei feliz! Todos os relatos de desmame natural e sem sofrimento que eu li eram verdade então! Não precisei deixar chorar, entregar pro pai. O que eu menos queria, que era vê-la gritando e eu recusando, não havia acontecido. Fiquei tão orgulhosa da minha conquista. Parabéns pra mim.

Até que.

Até que coincidentemente perto do início da Semana das Mães, onde tantos vídeos nos emocionam no Facebook, onde nossas amigas que têm filhos em escolinhas recebem presentes, onde a maternidade é a melhor coisa da vida a Alice resolveu que tem que mamar muito. Nisso, o tal dos "Terríveis 2", fase de birras e tal, apareceu com FORÇA. Ela já vinha mostrando um certo nervosismo em poucas situações, mas de repente passou a ser em quase todas as situações, do momento em que acorda até o momento em que acorda de novo. Ok, a gente dá mamá pra ajudar a acalmar.

Ok? Quando vi, leite zerado. Ah, mas o amor fala mais alto e muitas mães amamentam com o seio vazio até o nascimento do segundo bebê. Lindo. Minha cara, afinal, eu mais que ninguém luto pelo sucesso de todas na amamentação e desmame natural. Só que eu comecei a ODIAR, sim ODIAR a amamentar. Que isso? Essa não sou eu! Larga meu peito! Larga! Que saco, o que tá acontecendo???? QUE PORCARIA! Chorei, quis bater na Alice, agredi-la. A cada pedido de mamá, um desespero. ME LARGA, ME LARGA!!! Meu Deus, que sou eu????? EU nunca mais quero amamentar na minha vida. NUNCA MAIS!

O terror chegou. Gritos, birras. Não tenho mais pra onde correr. Tudo que eu menos queria começou a acontecer. Alice pegava o peito e eu via o rosto de todas as pessoas que ficavam falando que eu devia desmamar. Via todo mundo me julgando e falando "viu, vai tentar ser perfeita, devia ter desmamado há muito tempo" "você está fracassando nessa idealização de que amamentar é natural".

Fui analisar e vi que já tinha umas semanas que eu começava a pinicar durante a amamentação, para fazê-la dormir. Estava me sentindo escrava. O sentimento ruim queria dar as caras, mas logo passava. Eu ainda curtia o aconchego, o encaixe dela no meu colo então tava tudo certo. Ela foi largando naturalmente e estávamos numa rotina perfeita. Quando de repente tudo mudou.

A culpa pesava a cada vez que ela dormia e eu passava horas chorando e me sentindo um monstro. Sou um monstro por querer jogar Alice na parede quando a coloco no peito? Sim. Deixava ela chorando, gritando e gritava de volta.

Me lembrei que um dia li algo sobre mães que passam por um momento ruim ao amamentar e fui pesquisar: PERTUBAÇÃO NA AMAMENTAÇÃO. Finalmente achei tudo que eu estava passando e que muitas mães passam, mas poucas revelam. Resolvi expor essa crise aqui porque essa pertubação pode acontecer não necessariamente com grávidas e talvez esse meu relato possa ajudar outras mães. Ao ler os relatos e ver que não estou virando monstro, mas passando por uma fase difícil que pode acabar, tenho conseguido, desde ontem, deixar Alice mamar um pouquinho e não me irritar. Ainda é muito difícil, mas depois de ontem de madrugada, onde ela gritou MUITO com o pai tentando acalmá-la e nada resolvia, eu não quero essa sena de novo aqui. Não sei o que vou fazer, pois estou numa situação complicada, mas não posso vê-a gritando mais.

Por que ela, que estava desmamando sozinha e lindamente resolveu ter necessidade do peito outra vez? Por que eu, que amava amamentar, passei a ter essa pertubação? Eu não sei. Sei que tudo que existe nessa maternidade passa por aqui: dor do trabalho de parto, dor da cesárea, baby blues, TODOS os picos de crescimento existentes, TODOS os sintomas de gravidez existentes, desmame com sucesso, desmame com sofrimento, TUDO, TUDO passa por aqui. Ô vida!

Algumas soluções pra essa questão da Pertubação na Amamentação: descansar, comer bem, ter um tempo para si mesma, deixar a criança com alguém sem culpa, para você poder relaxar, principalmente se estiver grávida. Realmente eu não tenho descansado nem tirado nenhunzinho tempo para mim. Não tenho feito muita coisa por mim, a não ser arrumar casa, cozinha, casa, cozinha, casa, cozinha, coisas que eu amo fazer, mas acho que estou exagerando.

Eu espero muito que isso passe. Eu já estou quase no limite. Estou analisando com marido as soluções, estou meio perdida, não sei o que fazer. Sentimento de fracasso, de culpa, toda hora vem um.

E deixo aqui mais um relato de maternidade real e um aprendizado para mim mesma: não confie em mães de sucesso no Facebook e não crie expectativas com elas. Há sempre uma dificuldade escondida e cada mãe tem sua história.

Depois conto o que tem virado essa minha nova fase da maternidade.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Novo Baby Fruta

Depois que Alice deu uma boa crescida e não dava mais para chamá-la de alguma fruta e depois que ela começou a entrar na transição de bebê para criança e a vida ficou bem mais fácil, outro (a) Baby Fruta apareceu.

Que coisa, né? Será que sou um Hortifruti?

16 semanas, ou algo assim nessa contagem.

Tamo quase no quarto mês e finalmente estou melhorando dos vômitos, enjoos, humor péssimo, sono, etc.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Tendo filhos em Ituiutaba

Ituiutaba fica no interior de Minas. É aqui onde nasci, cresci e tenho vivido.
Cresci ouvindo que Ituiutaba é um fim de mundo, que em Ituiutaba não tem nada, que em Ituiutaba ninguém vai pra frente. Então, quer viver bem? Caia fora de Ituiutaba o quanto antes!

Até caí fora daqui uns tempos. Nada muito longe, logo ali em Uberlândia. Pela minha idade, a única coisa que Uberlândia trazia de diferente eram as festas. Realmente em Uberlândia tinha muito mais festa. Tinha namorado. Tinha novas amizades. Ah, que beleza de Uberlândia! Até que percebi que nem só de festas e namorados vive uma pessoa. Até que vi os moradores de lá dizendo que "Uberlândia era uma bosta de gente chata e atrasada!". Algo me incomodava, eu não estava feliz e precisei voltar para Ituiutaba. Aqui tinham meus pais, minhas cachorrinhas, amizades antigas e dava pra continuar vendo o namorado. Uai, até que dá pra viver em Ituiutaba. Transferi a faculdade pra cá, consegui o primeiro estágio onde as pessoas eram inteligentes! Uau! Tem gente inteligente em Ituiutaba!

E com o passar do tempo fui aprendendo a valorizar minha cidade. Sim, aqui falta muita coisa, faltam mentes mais abertas, faltam mais opções de lazer, mas onde é que não falta nada e tem tudo?

Engravidei e achei que agora eu tava enrolada mesmo. O que fazer com crianças aqui? Custa a ter uma peça de teatro nesse fim de mundo! E lá foi eu encontrar 1001 defeitos na minha Ituiutaba.

Então eu parei de trabalhar, o tempo foi passando, as contas apertando e eu tendo que ajudar a colocar dinheiro em casa trabalhando em casa, já que eu me propus a tentar até minhas últimas forças a não voltar a trabalhar fora. "Ah, porque se em Ituiutaba pagassem melhor o marido, tudo ia ser perfeito."? Nada disso. Parando pra pensar, nunca antes estive tão rica. Vejam quantas coisas eu posso ter em Ituiutaba:

- Moro perto dos meus pais, tenho os dois vivos prontos para me ajudar (mesmo que às vezes eles achem que Ituiutaba não presta). A coisa apertou? Não consegui fazer almoço? Estou passando mal? Alguém pra me ajudar urgentemente com Alice? Tenho eles ali, logo 2 quarteirões abaixo.
- O Marco Túlio também tem seus pais vivinhos, então temos, sempre que precisarmos, quatro opções de avós para Alice.
- Tenho dois supermercados por perto, que dá pra ir à pé. Um na rua de baixo e outro na de cima.
- Tenho um sacolão 4 casas pra baixo da minha.
- Descobri um lugar super legal onde se leva bebês para brincarem com tinta, terra, música, histórias... QUE DIA EU PODERIA IMAGINAR ISSO EM ITUIUTABA?
- Todo sábado de manhã tenho a opção de levar Alice para brincar, sem custo, numa loja de brinquedos, aqui, 2 quarteirões acima da minha casa. Tem música, histórias, pintura...
- Durante as manhãs, eu e Alice vamos no quarteirão de cima olhar uns cachorros que estão vigiando uma casa em reforma. Aproveitamos também para sentar na calçada e rabiscar o chão com pedaços de cimento.
- Tenho uma vizinha que deixa sua cachorrinha na garagem e de vez em quando vamos lá ficar vendo a cachorrinha também.
- Moramos numa casa antiga, mas que tem um quintal até legal. Alice fica lá mexendo com água, terra e grama ou rabiscando as paredes com carvão.
- Poderíamos realmente trabalhar mais para termos uma vida melhor, mas por enquanto preferimos poder sentar no chão com Alice todos os dias, já que temos a oportunidade de sermos socorridos com comidas pelos nossos pais. Por enquanto, comida é o que importa. Sei que muita gente não tem essa oportunidade, por isso não julgo.
- Quando eu acho que não dá mais, que o calor daqui tá insuportável, que chegou a hora de eu voltar a trabalhar fora, que não tenho mais criatividade para distrair Alice, cai uma chuva, o tempo refresca e tem um dinheiro sobrando pra gente comer fora e descansar um pouco. E logo depois descobrimos que num bairro distante tem uma praça super bonitinha, com sombra, árvores e muito cachorro pra Alice se divertir.
- E o custo de vida aqui não é alto.

Durante o passar dos anos, chegou aqui a UFU (Universidade Federal de Uberlândia), IFTM (Instituto Federal do Triângulo Mineiro), uma universidade que era particular estadualizou e, a grande novidade de 2015, inaugurou o primeiro shopping! Quantas novidades Alice e seus futuros irmãos poderão usufruir por aqui.

Muitas vezes reclamamos de barriga cheia. Acredito que raramente seja necessário largar tudo e tentar vida fora. O primeiro passo é ver como estamos com a gente mesmo. Criar raízes, ter uma base, é extremamente importante. Aí sim, talvez pode ser a hora de mudar. Quando vejo que estamos conseguindo educar um ser humano em Ituiutaba, acho incrível! Nunca imaginei que isso seria possível, sendo que cresci ouvindo que teria de ir embora daqui.

Todo lugar é bom. Não é preciso sair correndo de Ituiutaba ou de qualquer cidade. Se falta alguma coisa, vai lá, busca fora e volta. Retornar é bom. Fique bem, não use filhos como desculpas para correr e acredite: se você está bem consigo mesmo, qualquer lugar é bom. Do contrário, nenhum lugar "trará futuro".

Alice sendo caipira do interior

sábado, 10 de janeiro de 2015

Desmama essa menina

Tibiga, minha tia-bisavó de 97 anos, esses dias, ao ver Alice mamando em mim, me disse:
- Você ainda tem muito leite?
- Tenho. Mama em um e vaza em outro até hoje.
- Que bom. Tinha uma prima que deu mamá até o filho dela fazer 6 anos. O médico falava que podia dar enquanto tiver leite.

Dr. Fulano, um médico otorrino de 30 e poucos anos, ontem, ao me receitar uns remédios para uma infecção que eu tive dentro do nariz, me disse:
- Vou te passar um monte de remédios pra isso aí.
- Ah, tah. Mas eu amamento.
- Ixe. Qual a idade do bebê?
- Tem 1 ano e 4 meses. - respondi cheia de pus, sangue e lágrimas.
- Que isso! Ela tá grande, não precisa mamar mais. Então para de dar mamá. Com um dos remédios não pode.
- Mas não tem como eu parar de dar mamá. Tem alguma outra opção? - ainda cheia de lágrimas escorrendo por causa do corte, da forma grosseira como foi feita o corte sem anestesia no meu nariz, que escorria sangue e pus.
- Não. Você tem que parar amamentar. Então para só enquanto tomar o remédio.
- Mas eu fico com ela o dia todo. Não é simples assim.
- Então dá uma vez por dia e já prepara pra desmamar. Ela tá grande. Vou diminuir a dosagem e você dá mamá no máximo 2 vezes por dia. Ah, e pra dor, não toma Novalgina normal que você tem em casa não. Toma Novalgina com sabor Sprite, bem melhor.

E saí da clínica cheia de patrocinadores em cada canto (inclusive a marca da tal Novalgina de Sprite) com 6 remédios prescritos, que dariam em torno de R$100,00 na farmácia. Chateada, ainda com lágrimas, sangue e pus, corri numa farmácia homeopática em busca de uma luz que substituísse pelo menos uns 3 remédios daquela lista e eu pudesse seguir amamentando como sempre fiz. Chegando lá, fui atendida pela farmacêutica responsável.

Pasma com o tanto de remédios, me perguntou como começou o problema no nariz, como foi o corte e foi fazendo as anotações de substâncias para meu preparo homeopático:
- E quantos meses tem a bebê?
- Ela tem 1 ano e 4 meses.
- Ahhh, Então você pode desmamar já, menina! Dá mamadeirinha e põe coisa amarga no peito. - disse ela, que um dia me vendeu um preparo para aumentar a produção de leite no comecinho difícil da amamentação.
- Não tem como eu desmamar.
- Eu sei, vai doer o peito desmamar de uma hora pra outra. Então pode tomar esse remédio que vou manipular, mas vai desmamando, viu?
- Viu. Muito obrigada.

Posso sair desse mundo ou voltar pra 1930, onde o médico tinha dito que podia amamentar enquanto tiver leite?

Por que implicam tanto com amamentação após 1 ano? Não só amamentação, vejo também mães, cujos filhos usam chupetas e mamadeiras, passando por pressões para tirar esses acessórios.
Talvez porque nem todos saibam, mesmo aqueles que se dizem médicos, que a OMS recomenda amamentar até 2 anos OU MAIS. Talvez nem todos saibam que bebês e crianças sentem necessidade de sugar, então se não tem peito, pode ser chupeta, mamadeira, dedo...
E tem também aquele negócio, a criança fica o dia inteiro com a chupeta na boca, depois toma leite na mamadeira. Isso pode. Mas mamar o dia inteiro não pode??? Ah, doutor otorrino, não existe nenhum, nenhunzinho remédio que poderia substituir aquele e eu pudesse seguir amamentando normalmente? Com tantos patrocinadores dentro daquele consultório, saí com a recomendação de amamentar no máximo duas vezes por dia, já ir desmamando e tomar Novalgina sabor Sprite. Nada poderia ser feito, não existe outro remédio, outra solução.

Enquanto grávidas, aprendemos sobre amor, aconchego e os médicos acham lindo o feto mamando dedinho dentro da barriga. Depois que nasce não pode dar colo, não tem leite suficiente, não pode deixar no peito mais que 20 minutos, não pode deixar o bebê chupar os dedinhos. Não pode e não pode. Fez 6 meses??? Corre pra começar o desmame. Fez 1 ano??? Desmama senão você fica desnutrida e o bebê muito inseguro e dependente.

Chega desse mundo chato. Chega de mandar tirar peito, tirar chupeta, tirar mamadeira, tirar dedo. Deixem os bebês sugarem! Deixem as crianças serem crianças. Sei que a gente sempre fala de outra mãe. Não importo que achem feio Alice ainda mamar, que achem feio criança de 3 anos mamando, cada um tem um gosto, cada mãe faz de um jeito, eu falo de várias, várias falam de mim e por aí vai. É melhor falar nas costas certas coisas, comentar com o marido, com uma amiga que a mãe tal faz isso ou aquilo do que chegar na cara da mãe e encher o saco com opiniões sem fundamentos. Deixem as mães serem felizes como elas escolheram ser. Aliás, deixem os seres humanos serem felizes, né?


Brincou

Fez careta

Mamou